Go.S.A.

Algumas experiências no Go.S.A.

Reconheço o meu envolvimento no Go.S.A como a politização da minha relação com as práticas de saúde. É um projecto onde as mais diversas singularidades desafiam-se e reforçam-se através da partilha, da constante discussão, da dúvida e da curiosidade. Aqui encontrei um espaço seguro que me inspira a experimentar o novo e a desconstruir o que já está gasto e disfuncional. A saúde antiautoritária compreende o corpo como um território de resistência que (re)aprende de um modo singular e colectivo inúmeras fórmulas para uma maior auto-suficiência. Muitas vezes, o desconhecido aliado ao medo deixa-nos vulneráveis e torna-nos sujeitos acríticos e impotentes às estruturas do sistema hegemónico de saúde. E em jeito de refutação a essa tendência esmagadora, “Go.S.A.mos” da possibilidade de já sermos imensxs.

Foi com os primeiros raios de sol primaveris que me levaram ao encontro das primeiras reuniões do Go.S.A.. Podia interpretar, nessa altura, que seria um sinal de bom presságio sobre o que iria ser a experiência nos restantes meses no grupo. Desde cedo senti que havia um núcleo sólido e comprometido com a discussão sobre os conceitos de “saúde”, “autoridade” e, subtilmente, sobre “resistência”. É importante salientar que todo o processo foi uma mistura de teoria, práxis, desenvolvimento colectivo e comunitário, e ainda, de enriquecimento pessoal. O resultado foi compartilhado em formato de duas jornadas e múltiplas actividades sobre várias áreas da saúde, onde tive a oportunidade de colocar em prática, e compartilhar, conhecimento que é tão essencial para criar estados de autonomia. Foi muito importante para mim encontrar este espaço para desenvolver algo, que para mim, já estava nos meus planos (Arte-Terapia), fora de contextos académicos e institucionais e alinhá-lo com valores pessoais que encontraram expressão colectiva (não-hierárquica, não-enigmática, acessível, de capacitação evolutiva e partilhada).

A vontade de desenvolver ferramentas para uma saúde mais integral, informada e consciente é uma vontade que me tem acompanhado. Fazer parte do Go.s.a. foi um encontro (inesperado mas há muito desejado) com outras pessoas que partilhavam desta e outras vontades. Desde o inicio que senti que para além das vontades que nos unem existe também uma forma de estar baseada no respeito e compreensão de cada pessoa, criando um espaço-seguro para explorar, debater, estudar e partilhar. Existe realmente uma vontade de criar uma outra forma de saúde fisica-mentalemocional, não apenas como uma re-acção ao sistema vigente mas sim como resposta às nossas necessi- dades e vontades individuais e colectivas. Aprendermos em conjunto outras formas de cuidado, num mundo que nos quer isoladxs e desinformadxs, é altamente revolucionário!

” A experiência no GO.S.A. neste último ano foi, para mim, no descobrimento de um novo caminho de luta até agora completamente ignorado, ou melhor, até agora negligenciado. De repente, a minha saúde, e a vontade de adquirir mais conhecimento sobre o meu corpo, passaram a fazer parte do conjunto de preocupações que, desde há muito tempo, mexem com a minha consciência e que me levaram a empreender atividade política. Para mim a saúde antiautoritária, nas práticas coletivas e nos discursos individuais do GO.S.A., é algo que me empurra a não aceitar a enésima forma de controlo sobre o meu corpo, e que me leva à procura de ferramentas que me ajudem a desenvolver a minha emancipação do sistema saúde dominante. A luta para uma saúde antiautoritária é algo que me faz sentir empoderada e que me transmite o desejo e a força necessária para cuidar de quem está perto de mim. Recuso o meu papel de cuidadora enquanto mulher, mas reivindico, enquanto ato político, o gesto de cuidarmos uma da outra para nos libertarmos das teias do sistema capitalista em que estamos presas. Um sistema que nos quer saudáveis e normais, ao mesmo tempo que precisa da nossa doença para enriquecer e para nos tornar corpos frágeis e domináveis.

Participar na gosa tem-me proporcionado um espaço onde posso confrontar os meus preconceitos e as tendências menos desejáveis nas quais incorro quando tomo parte em espaços/processos colectivos politizados. Tem-me ajudado a aprofundar o pensar e o agir sobre os desafios que enfrentamos em portugal, numa cidade como Lisboa, quando tentamos trabalhar a construção de espaços colectivos, anti-autoritários, que procuramos que sejam participados, cuidados e críticos; tem-me também proporcionado uma reflexão constante sobre a maneira como lidamos com o que nos parecem ser as nossas ‘vitórias’ (o que alcançamos) e o que nos parecem ser ‘derrotas’ (o que não alcançamos em conseguir), durante o decorrer destes viveres e lutas – em que tentamos todas ser mais livres, mais cuidadas, cuidadoras, aprendidas e solidárias, umas com as outras. Tem sido importante para mim repensar o conceito de saúde a partir não da ‘caracterização do problema’/’de problemas’ mas a partir da paisagem, mais completa/ mais abrangente/ mais ampla da vida que levamos a cada momento e do conjunto de formas sobre como nos pensamos e comportamos em relação às nossas corporalidades, rotinas, rituais, desejos, no dia-a-dia; e como cuidamos das mesmas qualidades nxs outrxs – aqui importa para mim muito a ideia de não me definir de forma excludente a partir de parte, por negativa que seja, de quem sou ou do que faço, mas a partir da compreensão das muitas partes de como sou, e de como elas se articulam para formar um estar na vida que me gera mais ou menos bem-estar corporal, emocional, ou sofrimento – a mim, ou axs outrxs; e desenvolver e experimentar estratégias concretas para os ir transformando num torno secular